terça-feira, 12 de julho de 2011

O Fim


Querido,
Só te escrevo hoje para explicar tudo o que houve naquele último dia em que eu respirei. Depois da briga que tivemos noite passada, não consegui dormir o resto da madrugada. Desfiz minhas malas, com a certeza de que só viajaria com você, se me ligasse ou abrisse a porta do meu apartamento dizendo que não queria me perder. Não foi isso que aconteceu. Depois de perambular por todo aquele espaço vazio de você, eu decidi sair. Vesti qualquer roupa e escondi as marcas de mais uma noite não dormida com um pouco de maquiagem. Desci, e respirei um ar pesado, sem vestígios de qualquer perfume seu. Nós viajaríamos depois do por do sol, e amanheceríamos já em Veneza. Quando tal pensamento fez lágrimas se afrouxarem, comecei a caminhar para um destino incerto, sozinha. Fazia frio naquela manhã. Eu quis ir até você. Quis muito. Mas não pude. Meu sentimento ferido doía demais naquele momento. Mas eu deveria ter ido. Fui ao parque, depois caminhei pelo porto. Fui à casa de algumas amigas. Olhei pro meu celular inúmeras e incansáveis vezes, na esperança de uma mensagem, uma chamada perdida. Nada.Nada me dava a certeza de que você havia realmente existido, exceto a dor... Então depois de tanto caminhar pela cidade, voltei para casa. Meu apartamento estava mais vazio e mais frio do que nunca. Ainda existia em mim  a esperança de te encontrar lá, sorrindo. Meu apartamento. Você me olhava torto quando eu salientava o ‘meu’, lembra? Você dizia: Nosso! Então eu sorria e você me abraçava. Caíram lágrimas de mim novamente, e me atirei na cama e abracei o mais forte que pude seu travesseiro. Era a dor. Toda a minha dor se manifestando em impulsos nervosos. Então finalmente adormeci. Um sono pesado e sem sonhos, que rende uma bela dor de cabeça depois. Eu não podia acreditar que você não tinha ligado. Eu estava perdendo meu tempo chorando? Mas eu te amava tanto. Não fazia sentido. Nem um pouco. Tomei um banho demorado e me vesti. Faltavam duas horas pro nosso vôo. E então nós não iríamos? Você iria sozinho, ou não iria? De qualquer modo eu iria pro aeroporto. Sem malas, sem passaporte. Só pra ver se você estaria lá também, sem malas e sem passaporte me esperando. Então desci até a garagem e peguei meu carro. Ah, nosso carro. Ele ainda era nosso? Enfim, dirigi até o aeroporto, estacionei. E precisei de uns quinze minutos para me recuperar das lágrimas, quando abri o porta-luvas e descobri uma foto nossa esquecida ali. Depois de me recompor, olhei as lojas de lembranças, sentei e levantei mil vezes daquelas cadeiras da sala de embarque. Te imaginando ali comigo a cada segundo. Faltavam trinta minutos, pro nosso embarque. Ou o seu, sem mim. Foi então que eu te vi. E pra minha surpresa, com mala, passaporte, e acompanhante. Você estava ali, iria embarcar e levaria alguém com você. Alguém que eu achei estar enterrada (e esquecida) bem no fundo do seu passado: Sua ex namorada. Depois disso o que aconteceu – se estiver lendo esta carta agora – você já sabe. Só precisava te dizer que eu te vi com ela. E saí o mais rápido que pude de lá. Não tive tempo para me recompor, eu queria sair dali. Você precisava sair da minha mente o mais rápido possível. Eu queria te matar. Era o fim do nosso amor. Então peguei meu carro e comecei a dirigir. Minha vontade era de sumir. Não conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo. Parei o carro porque não conseguia parar de chorar. E quando parei de esfregar meus olhos, uma luz forte me cegou. Eu tinha parado num cruzamento, e um caminhão arrastou meu carro por vários metros. Quando acordei a caminho da sala de emergência, ouvi o choro triste de minha mãe. Mas nada de você. Foi então que me perdi numa escuridão desconhecida. Acordei acho que vários dias depois, e você estava segurando minha mão. Nenhuma lágrima. Depois você sumiu, não consigo lembrar. Então acordei, sem respirador, sem soro, e consciente. Conseguimos conversar, e você me explicou tudo. Que você havia encontrado com ela no dia em que brigamos, e ela tinha dado em cima de você. Mas que você não conseguia parar de falar sobre mim, então ela te beijou. Isso foi uma facada no meu peito. E ela prometeu preencher o buraco no seu peito, então ela viajaria no meu lugar. Eu não conseguia me conformar como você pode aceitar isso. Eu te amava demais. Depois de vários minutos me olhando, você disse: ‘Casa comigo?’. Então eu respirei e disse: ‘ Desculpe, mas meu tempo terminou’. Então fechei meus olhos, respirei fundo e deixei a vida sair do meu corpo para sempre.”
Fim
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