quinta-feira, 13 de maio de 2010

Mente, Corpo e Alma

Ela estava naqueles dias que nem deveria ter levantado da cama. Acordou, olhou no relógio e já eram 07h20min. Ela estava atrasada. Pensou em não sair dali (deveria ter feito isso). Pensou em fazer com que pelo menos por um dia, o mundo esperasse por ela, ao invés de correr atrás dos minutos que já passaram. Fechou os olhos, respirou fundo, levantou. O quarto girou numa velocidade absurdamente incrível. Isso geralmente acontece quando choramos abraçados com nossos travesseiros a maior parte da noite. Respirou mais uma vez e tomou coragem. Arrumou a cama, trocou de roupa, tudo normal. Tomou café e saiu. Olhou para o céu que era ainda de um azul preguiçoso de manhã, que ainda estava sendo pintado com os primeiros raios do amarelo vivo do sol. Fechou os olhos, respirou o ar gélido da manhã, e sentiu a pedra que havia dentro de si. Ela ainda não tinha ouvido os gritos de horror, socorro e desespero que saiam de dentro do seu próprio peito. A manhã estava fresca como uma típica manhã de outono, e ela tomou seu caminho de costume. Uma brisa gelada tocava gentilmente seu rosto, ela piscava, e sentia as pálpebras geladas e cansadas. Chegou. O porteiro lhe deu bom dia, e ela lhe retribuiu as palavras mais mentirosas que já tinha dito na sua vida. Pegou os livros e os cadernos e tentou se concentrar no trabalho de matemática que a esperava. Nem os cálculos mais bizarros fizeram com que as vozes se calassem e ela pudesse ter um pouco de paz. Sua mente estava cheia, e ela se sentia cansada. Lembranças pulsavam por seus neurônios com uma extrema rapidez, e ela se lembrava de tudo como se fosse um borrão, mas sentindo ainda cada detalhe. Nenhuma palavra foi dita aos amigos, além das necessárias. Parecia que ficar calada, faria com que a dor não doesse mais ainda, embora isso, a essa altura, já fosse impossível. Baixou a cabeça e desejou que o mundo acabasse ali. Ela não aguentava mais, a cabeça formigou e derrepente era como se estivesse flutuando. Tentou lembrar de alguma coisa boa. Mas que droga, ela só pensa nele, nas vozes, em tudo. Ela tentou ser mais forte mas não conseguiu. Cancelou seus planos pro fim de semana. Talvez ficar na cama, o mais encolhida, aquecida e calada possível seja a melhor solução. Ela respira fundo e levanta a cabeça para ver quem colocou a mão na sua. 'Esta tudo bem?'. Dói como uma facada ter que dizer que sim, quando não. 'Sim'. Não, não está. 'Mesmo?'. Ela fecha os olhos. 'Não, mas não quero falar'. Parece que ela vai explodir, seu peito queima. Então a pessoa pergunta se é sobre... o nome é citado. Os olhos enxergam o irreal. Seus ouvidos estão presos naquela pronúncia. Aquela sensação de nó na garganta está ali, lágrimas virão. Mas espere! Ela não chora na frente de ninguém! Ela está perdida... terá que falar. 'Sim, é'. Seus olhos começam a formigar, mas ela não vai chorar. É forte demais, nesse sentido. A pessoa segura forte sua mão e diz: 'Foda-se a distância'. Ela tem vontade de pular, sua alma saiu de si e está festejando. Mas o corpo continua inerte. Ela diz: 'Não é tão simples'. Talvez mentindo terrivelmente pela segunda vez. Ela pensa em ir pra casa, só isso que deseja. Várias lembranças passam na sua cabeça. É como um filme acelerado. Mas que não dura só duas horas. Ela deseja parar de pensar. Deseja de novo que o mundo acabe. Não vê saída. Não entende. Suas pernas lhe guiam de volta pelo caminho de mais cedo. Sua cama neste momento é seu melhor refúgio. As músicas soam pelo quarto e ela está deitada. Aquela música toca de novo. E depois de novo. Ela já não sabe se ainda é a mesma. Seu subconsciente entra em ação, mas isso não quer dizer que ela descansará. Ela não dorme direito. Abre os olhos, e deseja por um segundo que sua capacidade de raciocínio tenha ido embora. Uma dor aguda atinge seu peito e ela se contorce, fecha os olhos e as vozes continuam martelando em sua mente. Ela pensa em reagir, ela deve reagir! Seu peito dói, sua cabeça gira, e nada vai fazer melhorar. Só aquelas palavras. Ela pensa estar enlouquecendo. Estou enlouquecendo.

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